Do outro lado, na firmeza de quase ordem de mais velha assim me dizias
E eu do lado de cá a saborear o odor que passeava por todos os recantos da sala, ria, zombeteira, a aproveitar o gozo da posse e qual trunfo empunhava o troféu da sorte.
Foi assim que ao anunciar o presente do dia que disse que iria partilhar contigo me disseste que hoje não ía dar, mas não, que não abrisse o maboque sem ti.
E assim será. Também esperei pelo odor forte e a dureza do seio, ventre, concha, aquário, relicário nuns bem pesados treze mil e quatrocentos e dezassete dias, alguns trinta e sete cacimbos bem medidos. Memória dum tempo, símbolo, signo, barca, ventre,casa, mote, marca, pele, terra e alma,
ali naquele mágico, duro redondo, depositei.
E tu, assim sem querer, devolveste-me a marca do tempo, elo, liana, eterna aliança que caminhou comigo o dia inteiro e respira agora pela casa, depois de, de mão em mão, eu ter passado o testemunho da memória desconhecida, engolida agora pelos olhos dos mais pequenos que palpavam e cheiravam o estranho mistério.
Devolvi-vos a vida de memória quando a passei aos presentes. Assim penso.
Soltou-se o brilho das estrelas do olhar
Agarrado ao cheiro que te saía das mãos
Trouxeste-me a terra
em forma de fruto
Saudade amarrada à distância dum tempo
Que trago no peito em forma de concha
amaciado num cuidado de doces lembranças
Aqui me encontro deleitada
Quase em estado de contemplação
Sustenho-me no tempo e me conforto
Entre o odor forte e adocicado feito peito redondo e duro
E a maciez do interior, ventre d’alma generosa
Espessas águas, caldo
morno,
Vísceras de agridoce sabor que me agarra ao rubro quente
Do meu fado, vida, espaço, colo, útero de mim feito
Vinha abraçado aos irmãos um já despido do corpo
Que exaltava o característico dum mais comum feito diferente
De rebentar os lábios num torpor dolente de adoçar o coração
Ambos relicários do tempo, assim mos trouxeste
E estendeste-me a rede do tempo que me torna inteira
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