voltar

escrevo com os dedos da memória
embalada pela brisa vermelha e quente
num discurso de cambiantes licorosos
que teimam colar-se à pele e me fazem voltar

calor, luz, fogueira, feitiço
envoltos no balanço da doce carícia
do xuxualhar da folha da palmeira
marimba, quissange, batuque,
repousam na sombra da mulemba
que balança na tipoia do tempo

notas, vibrantes encandeiam a mente
latejam cortantes sonhos distantes de nunca acabar
e o corpo xinguila o compasso marcado
na dança que espia o silêncio da espera
e abafa a voz do grito dor de nunca voltar