O pão do depósito… O depósito de pão

Apeteceu-me saltar o muro cortar mato e ir pela beirinha em cima de poucos palmos de altura com os dedos dos pés preocupados em segurar os chinelos de borracha que agora resolveram dar o nome de havaianas. Naquele tempo eram só os chinelos de dedo que acho que também vinham da Mucambira.
Era só para dizer que era no tempo em que de manhãzinha os braços do sol já nos abraçavam forte e obrigavam a saltar da cama entrar no duche e correr ao depósito com o saco de pano na mão numa mão e moeda na outra que se colava bem apertada e com a magia do ácido e sal desenhava na palma, uma outra.
Ia com as recomendações todas da mãe. Educação, responsabilidade, respeitar a fila, bom dia e tal, obrigada e ver troco certinho, essas coisas. Era assim nesse tempo. Cinco tostões, dava dez pães lá no depósito. Espaço de distribuição das padarias feito em pouco mais ou menos de dois e meio por dois e meio, o pré-fabricado onde só dava para balcão e caixas de madeira onde se aconchegava o pão que passava em correria para as mãos da senhora que ia aviando com habilidade para despachar a miudagem que logo ao raiar começava a acotovelar-se para comprar o pão fresquinho do matabicho.
Era assim lá no bairro filho, respondi, quando hoje de manhã ele me perguntou:
- Então como era antigamente mãe? - Sumo de laranja, frutas, pão fresquinho…
Não filho, era café e pão com… manteiga da Cela, às vezes, outras era margarina mesmo. Ao lanche até gostava mais de fazer um furo no pão, encher de açúcar e café, era uma iguaria que nem tulicreme de hoje.
O pão do depósito… O depósito de pão. Era assim que se chamava na cidade grande