missivas do sul

Nesta passagem de testemunho que teimo vincar a cada passada num ritmo dengoso de vida saboreada em longos tragos em provas de muito mel e rasgos amargos que costumo temperar com gargarejos de doces licores tirados de arco íris gigantes que aprendemos desde cedo a puxar do fundo da alma e nos fazem gingar nas voltas, mesmo as trocadas, acertando o passo a cada passo com brilho de purpurinas num olhar brincalhão em esquindivas marotas do alto dos nossos passos nos arranha-céus da imaginação que passeia nos Olimpos perfumados de acácias e atapetados de veludos carmim, trazes-me meu filho, o doce sabor tranquilo de sentido de dever cumprido, com missivas de um olhar desperto, maduro de saber.
Assim te ouço com a voz inesquecível do querido Pinheirinho a sobrepor-se no desalinho das memórias: - O leão mostra a sua raça! E a vê-lo de guarda-chuva pendurado na gola a endireitar-lhe o corpo em contrapeso, no passo trauteante a clamar a vitória dos lagartos e sinto o cheiro do chá feito manjar que nos deliciava nos espaço estreito onde cabíamos dez…


“mando-vos este vídeo uma vista de onde me encontrava, num hotel na ilha! 
Cá de cima vi uma realidade que conheci de muito perto quando visitávamos a tia ali nas barracas na Abóboda! 
o Jocas nao se deve lembrar mas eu lembro-me de passar por ruas estreitas como estas e de brincar com os primos a correr como se fosse uma aventura.. 
lembro-me de ver galinhas... de ver lama... de ver pessoas a lavarem-se na rua.. lembro-me que almoçávamos na casa da tia num espaço que não cabiam mais que 3 pessoas e nós éramos 10..
Patrícia, lembras-te disto? lembro-me de correr por entre paredes estreitas com pequenos riachos de agua por baixo.. 
E lembrei-me disto porque nós não éramos infelizes.. bem pelo contrario.. 
hoje comentavam uns amigos meus: "como é possível? que pobreza... nunca conseguiria viver assim..." 
Nunca nos esquecermos de onde viemos mana... eu pensei cá com os meus botões... eu não me importava de viver ali... 
beijos grandes a todos! "

Assim te ouvi e conservei a memória ... 

9 de setembro - vou seguir o so(u)l

Neste percurso feito com um bálsamo especial vou revelar o que nos ajuda a caminhar e que traduz este estado de alma que se reflecte no brilho do sorriso dos meus olhos. 
Vou dizer dum toque mágico dum destes dias de jornada, que se propagaria por toda a casa da minha alma, vindo do triângulo que me sustenta e que falava assim em nome das três fortes bases para me presentear e parabenizar. O som longo e profundo que enchia o meu peito, tomava conta do corpo e soltava o rio quente e salgado que descia as curvas do meu rosto. Verdadeiramente enternecida, achei quase que já se cumprira o dia da jornada da vida e podia adormecer...
  
"Este 9 de Setembro é diferente.. se não me falha a memória, é a primeira vez que te vejo ao longe.. a primeira que não te dou um beijo de manhã de parabéns ou ao fim do dia quando chegas do trabalho. O jocas não está a pôr a mesa a preceito, nem a patricia a tentar desenrascar-se na cozinha com um cozinhado especial para este teu dia.. mas não fiques triste mãe. Este ano trouxe-me para o teu berço de menina e eu, ainda menino, estou a aprender a caminhar como me ensinaste. "o caminho faz-se caminhando.." dizes-me sempre.. 
olha para o caminho que já percorreste mãe... olha para trás e sorri... 
ouve... porque o avô e a avó te dizem: "parabéns minha filha.. estas a ir bem" 
Eu não podia estar mais orgulhoso de ti...de quem és e do que fizeste por todos.. não apenas eu o jocas a patricia e um neto... mas todos aqueles a quem brindaste com o teu exemplo, com a tua alegria, determinação e até com as tuas fraquezas... até essas todos admiramos em ti.. 
mãe, digo-te todos os anos e este não será diferente... Amo-te com todo o meu coração.. Tem um dia feliz! em breve estaremos juntos. um grande beijo"

não posso adormecer, vou seguir o so(u)l
Obrigada meus filhos

no 27 de abril elásticos invisíveis que prendem o quintal ao cafezal


Claro que ninguém conseguiu prender a lagrimita que saltava do peito, mais do que dos olhos. Esses,  bebiam sôfregos a beleza do momento onde eras rainha, enquanto escutávamos os cânticos de todo o cerimonial que te comprometia diante de todos os que quiseste juntar para testemunhar o teu ato solene que marcava a tua nova etapa. 
O sol quase se encolhia diante do calor que vocês irradiavam e nos aquecia. 
Toda a beleza envolvente cuidadosamente escolhida, abraçava-nos apesar do vento que diante dos deuses dos elementos teimou também assistir e não quis perder o momento. 
Ficamos então presos à belíssima história dos elásticos invisíveis de que o tio fez memória e  também ao que se fez sentir no emocionante sentido fraterno da história que se seguiu e que nos trouxe a partilha de novos laços do teu par, que passaram a ser também memória.
Senti então a firmeza que me falava a história quando abri o portão de onde irradiava já o cheiro da memória. 
No pequeno campo de prata que tinhas emoldurado para cada um, estendia-se um pequeno hectare do cafezal que preservaste e que fizeste questão de passar, falando assim ao coração, mesmo àqueles que ainda não tinham podido fazer parte desta história que tornaste de todos. 
Foi aí que os elásticos invisíveis me falaram que a força que tinham vinha de ti.
Já só restávamos meia dúzia para um brinde que coube numa só mesa, ao vosso brilho feito nosso, quando o mais velho do teu par falou com propriedade, enquanto os olhos meigos da esposa o abraçavam na cumplicidade, que o que mais gostara, foi ver família, mesmo família.
A nós aquecia o coração, de ver passado o testemunho.

Hoje um teu dia de todos os dias

Hoje um teu dia de todos os dias teus que generosamente fizeste meus. E de novo aquele aperto no peito... falta-me o abraço.O olhar cúmplice. Já tenho o vestido, ias gostar de ver. Deixa lá, eu aguento-me. Aprendi a ter-te assim, contigo, sem ti... Tenho saudades...

E no pretexto e contexto

E no pretexto e contexto.
No quintal, sanzala feita sala se cumpriu.
Assim correu. E escorreu quente e doce de memória.
Fraterna e tranquila a unir forte os laços, entrelaçados com os que estão e os que não podem, mas fazem questão. Assim corre o rio cheio e transbordante a acariciar as margens colo e abrigo da memória que abraçamos no peito.