O gelo é mágico.
Olhamos o fundo dos copos com design masculino, dizias tu.
Interroguei-te com o olhar e prontamente justificaste com a forma geométrica
Sabes querida, continuo a pensar como foi possível ter sido tudo apagado dos registos e rodavas os cubos a ler a história que atravessava o cristal gelado das formas do interior curvo que seguravas nas mãos.
Fiquei a adivinhar-te o silêncio e resolveste então recriar o episódio do gelo com os sul africanos.
O daquela época em que eles faziam às vezes uma visita ao vosso ermo esquecido do mundo, e num descanso entre jogos de poder tinham-se-vos juntado para saber umas coisas, contaste-me tu. Se sobre o fogo quente da morte, se sobre o poder da chama da vida não disseste. Apenas isto.
Assim no final de tudo perguntaram-me. Ali onde faltava tudo.
Se tivesse que pedir neste momento…alguma coisa, perguntaram-me eles do alto da força do seu poder, o que é que quereria, assim de repente, neste momento.
Olhei-os com a calma dos espaços sem tempo em que habitava e rodei o copo que tinha entre as mãos e desejei o impossível. Ali mesmo o que me faltava, e aí o desejo saiu-me na voz a esquecer de acompanhar o raciocínio da exequibilidade.
Aqui só me falta mesmo uns cubos de gelo.
O sul africano chamou o subalterno a transmitiu em voz de comando a ordem.
Teriam de voar para os ir buscar ao outro lado.
Muitas horas depois fui brindado com a carga de um voo especial.
O meu desejo tinha sido uma ordem.
Assim falamos nas nossas conversas de gelos mágicos de cadernos de fogo ditos em tempos de paz.
Outro dia voltamos ao gelo mas o de uma máquina gigante que chegou de avião também por um desejo e que fazia… uma tonelada de cada vez… que desperdício.

o respeito dos homens

Foi mero acaso,acredita.
Mesmo uma questão de sorte.
Quando me predispus, contaram-me a história dos meus antecessores
e a sorte não lhes tinha sido o que se pudesse chamar de aliada, desde o alferes leão ao churrasco, não mudava muito a sebenta de escrita da história que lhes deu nome. O cheiro da loucura da guerra estava-lhes impregnada.
Os homens estavam num estado lastimável a ponto de aparecerem de chinelos calções e tronco nú á formatura. Olhavam-me de lado e com um sorriso mordaz como que a anunciarem ou a emitirem um cumprimento a uma curta estadia.
Assim o respeito dos homens impunha-se e tornava-se agora a minha primeira missão.
Tinha que os agarrar caso contrário seria o meu suicídio, e o deles...
Assim para uma primeira nota dava para catalogar mesmo assim, com título e tudo, é bonito...O respeito dos homens
Tinha sido ali que tinha aprendido que podia sobreviver, e fora o guião de Sun Tsu, era seguro que se seguisse a pista de qualquer símio ele o levaria à água às folhas e aos frutos comestíveis. E assim fora.
Fazia naquela época parte dos irregulares. Com cento e quarenta entregues a si. E ele a si próprio. Se se perdessem não constariam de estatística. Códigos e estratégias que podem agora viajar no diário de bordo dos cadernos de guerra.
Vou-te seguir deambulando pelos teus trilhos a que vais tirando as teias abrindo-os um a um com o cuidado de não os desintegrar, de tão frágeis de anos de cárcere no silencio da memória.
Estou a aprender o respeito pela grandeza dos lados opostos quando viajam em pé de igualdade.
Assim se fundirão as nossas páginas de passado num corpo de futuro.
Querida,
Hoje vou contar-te uma história.
Queres ouvir?
A da bosquímane. Que não te pareça mal…
Não, não, insisti…
Colei-me ao chão dos teus olhos, mergulhei no fundo na tua alma e deixei que ao meu ouvido chegassem as palavras.
As que vinham lá de muito longe onde povoavam espécies que se abraçavam entre anharas savanas e desertos.
Onde se tinha que se enfrentar no mesmo dia a febre alta de rebentar as têmporas e o frio cortante de tolher dos corpos.
Tinha sido ali que tinhas aprendido o amor que contaste com ternura naquela noite que me transportou para o espaço mágico de Luiana…