nos intervalos

Nos intervalos demorados que faço espaços só meus e teus, tivemos tempo para me aventurares nos novos paladares.
Tinhas dito que era muito bom. Ias-me fazer experimentar, e assim foi.
Depois de um fim-de-semana pesado, anunciei:
Vou sair.Quando me olharam nos olhos vesti-os de determinação, e vocês nem recuaram.
Sim mãe, responderam os dois.
Acho que apesar de ter deixado jantar feito,se amanharam com um Mac.
Eu segui. Aí inventaste o novo caminho quando fizeste o desvio sem avisar. Presenteaste-me com aquele espaço mágico. O dos novos paladares feitos de arroz avinagrado e peixe fresco cru temperados de molhos onde se banhavam ou de pasta verde parecendo mentolada que se transformava num gindungo que penetrava as narinas e me encharcavam os olhos de odor(calor). Tu reforçavas que era mais aproximado ao picante de mostarda inglesa. Foi bonito,sim senhor.
Contei aos filhos,quando me mostraste o reservado, e fizeste desfilar toda a panóplia de sabores para que eu ficasse por dentro de todos. Mesmo aquele panado que parece que foi inventado nos Estados Unidos. Que manuseei sem dificuldade os "instrumentos de navegação" e tudo. Foi bonito sim senhor.
O filho então perguntou: e que é que bebeu? eu respondi.
E quente ou frio? e eu aí disse, quente. Ele em cima da sabedoria das suas novas aventuras, confidenciou-me que era uma prova de amor. Só para ocasiões especiais, etc. etc. Foi bonito sim senhor.
Eu tinha dito que ia aprender, e naquele ambiente mágico aprendi e gostei.
Dos novos sabores, da música, da bebida. enfim, foi bonito. fiquei bem e conheci contigo o sabor tradicional servido no estilo minimalista e geométrico japonês. Assim provei o sushi e saqué.
Quando descemos visitamos a exposição e quando pousaste os olhos no ábaco decidi que era teu embora tivesse que te convencer.
A escolha recaiu sobre o que tinha a imagem da fénix e do dragão gravada.
A simbologia soube-a depois, e contei-te, lembras-te? estava-nos destinado.

a um novo ritmo

Hoje a manhã esticou-se como se fosse metade do dia.
Acordei com movimento até parecia que era sábado.
A voz do meu neto já enchia a casa e o meu mais novo diligente atendia e acorria aos pedido do miúdo. A filhota acompanhava o ritmo e acompanhava e controlava a situação, a vestir calçar e dar a medicação, feita mãe de mão cheia.
Acordei já com o filhote mais novo a desconseguir dar o biberon ao candengue. Adivinhamos que estava a ser dos últimos, a avaliar pela resistência,ele que é um miúdo de boa boca.
Assim como assim, fui fazer uma papa a aproveitar o leite e ainda consegui que ele comesse alguma coisa.
O mano mais velho marcava a presença e dava os retoques da ajuda no controle da situação. A mana meteu-se com ele porque ontem à noite passaram a ferro enquanto ele nas calmas punha umas kizombas para todos, enquanto ensaiava umas passadas.
Então estás a passar agora de manhã a camisa? Então porque é que não o fizeste ontem?
Fazer até fazia,mas não era a mesma coisa...
parafraseando o anúncio que passa agora na tv com sucesso.
Rimos todos claro!
O filhote foi o primeiro a sair e ainda lhe revistei o cabelo onde estava a faltar o gel. Voltou atrás e foi compor o ramalhete.
Depois de todos prontos fui à porta despedir-me de todos um a um.
Fiquei comigo mesma prenha de paz.
Depois de roupa estendida a aproveitar o Verão antecipado, máquina da louça a bombar, e nova empreitada de roupa já pronta à espera na máquina para no fim do dia avançar, fui-me arranjar.
Um bom início de semana,de vida nova, a um novo ritmo.
Agora lembrei-me...não deixei nada a descongelar para o jantar... logo se vê.
Ontem desceram umas cassetes.
O som entrou na cozinha e dei por mim de lagrimita teimosa a tremelicar.
Desfilaram os kiezos, teta, bonga, kassafo, a acompanhar o brilho a dançar nos olhos do meu mais velho. Tinha-lhes sacudido o pó da arrecadação e lhes deu a ordem de soltura para começarem a ombrear agora os pequenos redondos prateados. Tinham-se calado uns bons tempos a acompanhar umas amarguras de sonhos desfeitos em que elas tinham brilhado. Assim, nos últimos anos as cassetes ajudavam a arrancar crostas das feridas que estavam mal saradas e então era melhor ficarem no escuro quietinhas e meio adormecidas. Mas ontem o filho quis fazer surpresa. Trazer-nos a reviver os oitenta, momentos felizes em que eles ainda davam pouco mais que acima do joelho que é pertença da minha pessoa que não tem mais que metro e meio. Disfarcei a nostalgia com uns toques de passadas de antigamente para arrancar o esboço de sorriso da minha miúda que calava um quase soluço a lhe chegar na onda da emoção. Demos por nós a repetir agora já a saborear o som com o cheiro de antigamente mas com o coração já bem reforçado de novas memórias. Afinal retemperamos de novo o cheiro da casa, agora até já com o meu neto a participar. Às tantas a filha chamou-me para ver a avó que estava a cantar enquanto gingava só com a cabeça.
Agora não se vão calar mais durante os próximos tempos.
E o símbolo do poder estava no cajado
mas não percebeste.
E este era mesmo prolongamento do seu braço
e mesmo assim não percebeste.
Que com ele morreriam, tomaria vidas
de gerações feitas de feitos
e cousas menores sentidas maiores.
Viste então defender o castelo,
percorrerem montes e vales
devastar e arrasar quem se atravessou no caminho
em nome de um Deus desconhecido
que desflorou donzelas
reprimiu irmãos,fez escravos, conduziu soldados
dizimou nações
e não protegeu os seus filhos
sobretudo os que defenderam a causa maior
a do cheiro de uma terra que sentiste tua
e acreditaste pertença de filhos e filhas (des)iguais.
Mas que em nome de causa maior
arrancaste de ti a coisa tua junto com a pele
para viver a dor da carne viva em cada dia
em terras de ninguém que diziam tuas.
Então ergueste o muro de cor insano
inventaste silêncios de grito por causas insentidas
com nomes de dignidade e de direito de uso e de zelo
exigiste razões e desconcertos
até esbarrares na fronteira.
aqui te quedas agora a reinventar o certo
balanças no limbo de penas e jugos
e descobres que nem três gerações conseguem
transpor a diferença que sentes igual
percebes então agora
somados valores,apelos, e amores
quando chegada a hora da esperança acerto e luz
novos cheiros a caju em vida renovada,
ergue-se apenas a taça de sangue de cor
agora meu irmão, não tens escolha...