vou sentar-me à tua espera sem esperar

vou sentar-me à tua espera,
enquanto saboreio a madrugada
e caminho docemente embriagada
pelo sossego macio e lento dos sons do meu silêncio.

vou sentar-me à tua espera,
e deixar que os fios de brisa de liras de prata brilhante
deslizem cadentes e ondulantes numa dança inebriante
e penteiem os meus cabelos num sussurro acariciador,
quase em murmúrio, qual Alceu à pura Safo,
de violetas coroada e de suave sorriso, em odes ao amor.

vou sentar-me à tua espera sem esperar

enquanto a noite quente me acaricia o corpo
numa toada de cores e andamentos
num sofrer de gozo dos momentos
mistos de veludos de luar

vou sentar-me à tua espera
por de não ter que te esperar
vou sentar-me à tua espera
certa que não precisas de chegar

Quando eu chegar

Quando eu chegar
Pousarei meus lábios docemente em cada flor
banharei meus olhos em cada luz e acalmarei a dor
Deixar-me-ei levar

Quando eu chegar
Sem pressa de chegar
Vou deixar-me arrebatar

E gingarei em esteiras a doçura do amor
provarei sabores e doces licores
cheiros intensos e mostos de cor
maruvos marimbas rebitas tambores

Quando eu chegar
sem pressa de chegar
deixar-me-ei levar

para vocês

das memórias nos sessenta

a minha escola,a primária nº48
a embala
o hospital
a piscina
a estátua
a igreja
o hotel girão
a sacor

gostava tanto que pudesses ver

gostava que pudesses ver
era assim...
e trazias estórias
e trazias memórias
e guardavas relíquias
que trazias contigo
e nos fazias sonhar
rasgavas as estradas
e trazias o pão
trazias caminhos que percorrias
trazias arte e sabedoria
levava-nos a descobrir a terra
afinal trazias os sonhos
com a tua forma de ser e ver o mundo
com que enchestes as nossas vidas
obrigada pai