agarra que é gatuno - II

a dona porca, alcunha de há muito, de uma das nossas vizinhas da rua, assentava as manápulas calosas nas ancas firmes esticando o pescoço no prolongamento do peito liso, dilatando as veias, para dizer de sua justiça. o carrapito hirto da goma de óleo no alto da cabeça e os olhos transtornados confirmava o que falava. aqui para nós a senhora parecia que só tinha tomado banho para embarcar no infante dom henrique (aquele barco onde todos os nossos colegas pulas tiravam a fotografia vestidos a coboi (cow boy), sentados no cavalo de pau e que nos deixava a morrer de inveja quando nos mostravam na escola, fazendo-nos imaginar as delícias e aventuras daquele cruzeiro que jamais experimentaríamos). como dizia, aquela senhora, sapatos não usava, e os pés íam para a cama no mesmo estado em que saíam da terra preta da sua horta quando de baldes à cabeça esventrando a terra com seus braços musculados, ou regando as couves com água da fossa, se dedicava aos trabalhos de casa. Aquela senhora então dizia e afirmava a pés juntos que tinha visto o preto fugir. Chegou mesmo a persegui-lo, só que o perdeu de vista ali perto das nossas casas. a sua estatura, prosseguia ela, - era exactamente igual à daquele miúdo. e apontava o nosso irmão.

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