Ontem desceram umas cassetes.
O som entrou na cozinha e dei por mim de lagrimita teimosa a tremelicar.
Desfilaram os kiezos, teta, bonga, kassafo, a acompanhar o brilho a dançar nos olhos do meu mais velho. Tinha-lhes sacudido o pó da arrecadação e lhes deu a ordem de soltura para começarem a ombrear agora os pequenos redondos prateados. Tinham-se calado uns bons tempos a acompanhar umas amarguras de sonhos desfeitos em que elas tinham brilhado. Assim, nos últimos anos as cassetes ajudavam a arrancar crostas das feridas que estavam mal saradas e então era melhor ficarem no escuro quietinhas e meio adormecidas. Mas ontem o filho quis fazer surpresa. Trazer-nos a reviver os oitenta, momentos felizes em que eles ainda davam pouco mais que acima do joelho que é pertença da minha pessoa que não tem mais que metro e meio. Disfarcei a nostalgia com uns toques de passadas de antigamente para arrancar o esboço de sorriso da minha miúda que calava um quase soluço a lhe chegar na onda da emoção. Demos por nós a repetir agora já a saborear o som com o cheiro de antigamente mas com o coração já bem reforçado de novas memórias. Afinal retemperamos de novo o cheiro da casa, agora até já com o meu neto a participar. Às tantas a filha chamou-me para ver a avó que estava a cantar enquanto gingava só com a cabeça.
Agora não se vão calar mais durante os próximos tempos.

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